Angola: Interview with Sr. José Sonnenberg Fernandes

Sr. José Sonnenberg Fernandes

General Manager (GAMEK)

2011-07-16
Sr. José Sonnenberg Fernandes
A central hidroeléctrica de Capanda tem quatro turbinas, cada uma com uma capacidade de 130 MW com um total de 520 MW. Segundo as previsões, as duas primeiras turbinas entram em operação em Dezembro de 2002. Para quando está prevista a entrada em operação das outras duas turbinas ?

Em Dezembro de 2002 entra em operação uma turbina. A Segunda só entra em operação em Junho de 2003.Quanto às outras duas turbinas não há ainda qualquer previsão para a entrada em operação. Essa decisão compete ao Ministério da Energia e Águas e será função da demanda de energia. Para nós Gamek e dentro de uma óptica de redução de custos seria ideal que não houvesse interrupção, isto é, que no próximo ano começassem os trabalhos relacionados com a terceira e Quarta turbina.



Porque não se instalou as duas últimas turbinas ?

A decisão superior foi de apenas se instalar as duas primeiras turbinas, ficando as outras duas para uma fase posterior.



Então porque diz que a central de Capanda vai produzir 520 MGW se não há planos para incrementar a sua capacidade a 520 MGW ?

Capanda na sua fase final e definitiva será uma Central com 4 grupos de 130 MW, perfazendo um total de 520 MW. Ela vai ficar preparada para receber as quatro turbinas de 130 MGW que vão dar os 520 MGW. Nesta primeira fase será já construída toda a infra-estrutura necessária à montagem das duas restantes turbinas.



Há demanda em Angola para a capacidade de produção das duas últimas turbinas ?

Esta questão deverá ser posta ao Ministério, contudo penso que um dos motivos que determinou o faseamento de Capanda foi o da demanda de energia.



Hoje, qual é a capacidade da central de Cambambe ?

Cerca de 180 MW.



E depois da sua reabilitação, qual será a sua capacidade de produção ?


Depois da reabilitação e instalação da segunda central e do alteamento da barragem em 20m, Cambambe poderá produzir cerca de 780 MW.



Então prevê-se o inicio desta obra quando começar a funcionar as primeiras turbinas de Capanda ?

Neste momento estão a decorrer trabalhos em Cambambe, mas não são trabalhos de grande volume. Esse grande volume só poderá existir, quando Capanda estiver a funcionar para permitir que Cambambe possa parar e haver alternativa da energia de Capanda.



Quanto tempo demorará a acabar o projecto Capanda ?

Se não tivesse havido os factos militares que ocorreram em Outubro de 1992 e que levou a primeira paralisação, Capanda iniciaria a produção de energia eléctrica em dezembro de 1993. Portanto, irá ter um atraso de 9 anos.



Quem vai gerir a barragem ?

A ENE (Empresa Nacional de Electricidade).



Elecnor está instalando as linhas de transmissão entre Capanda e o resto da rede de transmissão eléctrica em Angola. A partir de quando estará preparada esta linha de transmissão ?

Toda a energia, nesta primeira fase que está a ser produzida em Capanda, vai ser ligada a Cambambe. De Cambambe, será distribuída para o sistema Norte do Pais.



A conexão entre Capanda e Cambambe estará pronta em Dezembro de 2002 ?

Obrigatoriamente tem que estar se não, quando carregarmos o botão, a energia para aonde vai? As obras da linha de transmissão já tinham começado, quando houve a paralisação em 1992, e vão recomeçar dentro de um mês e meio.



Quando se prevê a integração com o sistema existente de transmissão do norte e sul de Angola?

Antes de se pensar em integrar a energia de Capanda ao sistema centro e sul, terá de haver um trabalho de recuperação das linhas de transmissão que ligam esses sistemas e que também foram destruídas pela guerra.



Pode-nos confirmar se o governo prevê estas interligações num futuro próximo ?

Quando se decidir sobre a montagem das máquinas 3 e 4 deverá também tomar-se uma decisão relativamente à recuperação das linhas destruídas para permitir a interligação dos sistemas.Com a entrada em funcionamento dos grupos 3 e 4 deverá também ser construído um novo sistema de transmissão que passa pela construção de uma subestação no Lucala, uma linha Lucala/Luanda e uma linha Capanda Gabela que permitirá o escoamento da energia de Capanda para as zonas centro e sul do Pais.



O projecto Capanda vai permitir a viabilização e construção de aproveitamentos hidroeléctricos adjacentes a Capanda. Estamos a falar de novas barragens ?

Sim. Entre Capanda e Cambambe esta previsto construir mais sete barragens que produzirão um total de 5480 MW os quais somados à produção de Capanda e Cambambe dão um total de produção de 6780 MW. Agora a construção desses empreendimentos será como é evidente, função das futuras necessidades do Pais em termos de energia eléctrica.



Quando se prevê que Angola começará a exportar electricidade ?

E muito difícil dizer quando, pois se ainda nem sequer temos condições de utilizar no centro e sul do pais a energia a ser produzida por Capanda, penso ser prematuro pensar-se em exportação.



Tem alguma expectativa neste sentido ?

Se eu não tenho expectativa para o grupo 3 e 4 , muito menos para as outras barragens.



Porque não tem expectativa neste sentido?

Como referi anteriormente a decisão de se avançar com a instalação das máquinas 3 e 4 é uma decisão que ultrapassa o Gamek e ela deve ser antecedida de estudos de evolução de consumos, perspectivas de necessidades futuras, etc., estudos esses difíceis de se fazerem quando ainda não vivemos em clima de paz total e verdadeira.



Capanda viveu duas largas paralisações durante a sua construção: uma entre Novembro 1992 e Maio de 1997 e outra durante todo o ano de 1999. Como prevê assegurar a protecção de Capanda, uma vez que começou a produzir electricidade a partir de Dezembro de 2002 ?

Quando se deu a primeira paralisação, em outubro e novembro de 1992, tinham acabado de decorrer as eleições, o país tinha entrado em 1991 num sistema de multipartidarismo, toda a gente estava convencida de que a guerra tinha acabado, as próprias FAA (antigas FAPLAS) estavam em fase de desmobilização, de modo que quando a UNITA atacou e ocupou Capanda. a defesa de Capanda era quase nula.

A segunda paralisação de Janeiro de 1999 a Janeiro de 2000, já e diferente. Quando retomamos em 1997 as obras houve a criação por parte das FAA de um dispositivo de defesa de Capanda, dispositivo esse que permitiu que a Segunda paralisação da obra não fosse devida a qualquer ocupação mas sim uma consequência de uma medida de precaução para se evitar consequências graves para os trabalhadores, pois o inimigo, não conseguindo entrar na obra fustigava a mesma com bombardeamentos por canhões de longo alcance. Neste momento Capanda continua devidamente protegida pelas Forças Armadas Angolanas e essa protecção prolongar-se à para além do período de construção.



Perderam trabalhadores no projecto por causa da guerra ?

Sim ,quatro. Quando em 1992 o estaleiro foi atacado, houve, como é natural, uma fuga desordenada para o mato, de que resultou terem desaparecido esses 4 trabalhadores.



Que medidas está a tomar para evitar outro bombardeio em Capanda ?

Isso é um problema do foro militar, mas temos confiança nas nossas forças armadas que nos garantem não haver possibilidade de repetição dessa situação.



Para finalizar, gostaria saber qual foi o pior e o melhor momento que conheceu durante esta larga aventura que foi a construção da barragem de Capanda ?

O pior momento: quando a UNITA invadiu Capanda e também a destruição que foi feita, levou-me a pensar o pior. Porque a primeira coisa que foi destruída nessa altura foi o hospital. Portanto, eu temi pela integridade física da obra. De resto, estive sempre convicto que com esforço e dedicação concluíamos a obra.

O melhor momento: Um bem recente, foi no dia 02/12/2000, quando concluímos a betonagem da barragem. É um marco que para mim, foi extremamente importante. Houve outra também muito importante que para mim, foi em 09/1987, quando pusemos a nu o leito do rio, ou seja quando descobrimos a rocha onde foi fundada a barragem. Há muitas recordações como a do primeiro dia em que fui a Capanda, era só mato, não havia essencialmente nada. Outras, dos primeiros meses em que tivemos de viver em Malange, ir trabalhar para Capanda de manha de helicóptero e regressar pois, não tínhamos ainda condições para viver em Capanda. Há aqueles aspectos de luta contínua, de mobilização de pessoal, de incentivar as pessoas de que havia algo que estava a ser construído em beneficio do pais. Eu costumo dizer que Capanda é o meu terceiro filho.