ANGOLA
Angola's tormented path to petro-diamond led growth









Eng. Tomas Pedro Caetano, Director of IDF

Ministry of Agriculture
Instituto de Desenvolvimento Florestal
Institute for Forestry development


Entrevista com o

Eng. Tomas Pedro Caetano,
Director

Que área do território angolano está coberto por florestas ?

Nós definimos florestas, como uma superfície coberta de árvores e de arbustos, em que estas árvores ocupam numa determinada área cerca de 35%. Em Angola, as florestas ocupam cerca de 35% deste território; entretanto temos que diferenciar os tipos, existem florestas que não são produtivas ou económicas. Florestas económicas são aquelas onde delas se retira a madeira, as quais ocupam cerca de 5% do território, principalmente na zona norte e centro nas províncias de Cabinda, Uíge Zaire, Bengo e K. Sul; na zona leste temos as províncias do Moxico e Kuando Kubango. Estas são as principais áreas do território angolano onde existem as chamadas florestas produtivas. No resto do país existem outras formações florestais que não são exactamente as produtivas, ou seja, que não têm valor económico, mas outras como para a conservação dos solos, etc. são naturais, mas não têm valor económico.

Quantas espécies de árvores com valor económico existem em Angola ?

Estão estudadas cerca de 80 espécies de árvores com valor económico. De certo que na floresta tropical poderão existir outras, mas isto tem muito a ver com o seu valor no mercado e o valor da madeira está em função da procura que tem. Certamente que, hoje o mercado exige apenas cerca de 15 espécies, para exportação ou mesmo para consumo interno.

Entretanto, poderão existir mais 120 ou 150 espécies, só que ainda não foram estudadas no seu ponto de vista tecnológico, a sua aplicação na indústria pelo que ainda têm pouco valor comercial.

Como se chamam as árvores em Angola com valor económico ?

É uma lista extensa, depois dou-vos para consulta.

Quantos mil metros cúbicos são actualmente explorados ?

A exploração é muito baixa. Para ver que em 1973 atingiu-se uma produção de 550 mil metros cúbicos, no ano de 2000, foram produzidos 35 mil metros cúbicos, significa que estamos abaixo de uma décima do potencial possível e sustentável. Este ano não exploramos mais do que 35 mil metros cúbicos; quando podemos atingir um limite sustentável de 360 mil metros cúbicos.

Qual seria o nível de produção ideal para Angola ?

Segundo estudos, os 550 mil metros cúbicos tinha atingido um limite que já estava praticamente na faixa amarela. Os estudos efectuados dizem que Angola pode produzir de uma forma sustentável 360 mil metros cúbicos. Isto é que nos dá a garantia de que estamos a explorar e a preservar a nossa floresta.

Que tipo de empresas produzem madeira hoje em Angola ?

São empresas privadas, licenciadas pelo estado.

Poderia nos dar mais detalhes ?

São agentes privados que têm as suas empresas os seus meios e pedem uma licença de exploração ao estado; o estado concede essa licença de exploração, pagam as taxas que são devidas e fazem o seu negócio. Principalmente em Cabinda, eles fazem a produção para consumo e a outra parte para a exportação. È um negócio totalmente privado mas sob controlo do estado.

Existe alguma Empresa estatal no sector florestal ?

Não, não. No sector florestal não existe nenhuma empresa estatal. Se existe são empresas de transformação, como a Panga - Panga, uma empresa com gestão privada e em vias de privatização. Neste sector não temos efectivamente agentes do estado a fazer exploração da madeira.

E qual é o papel do Instituto de Florestas em Angola ?

O Instituto é um órgão do estado que está sobre tutela do Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Rural que tem como função o estabelecimento de normas metodológicas que regem a actividades relacionadas com a conservação, com a exploração do recursos florestais e faunisticos. Nós somos o órgão do estado que concebe as normas metodológicas e que implementa as políticas do estado para a área da exploração e da conservação dos recursos naturais florestais (como a madeira,) e faunisticos (como os animais selvagens).

Qual foi o efeito da guerra sobre as florestas de Angola ?

Sabe que Angola é um país que esteve em guerra principalmente no interior. Isto fez com que as populações saíssem destas áreas e se fixassem na zona litoral. A zona litoral é uma zona não florestal. Da província de Luanda até á província do Namibe, é uma zona não florestal, considerada Ecossistema Frágil onde a sua predominância começa no deserto do Namibe, e vai subindo em forma de estepe até a província de Luanda. Os deslocados saídos do interior, fixaram-se nessas regiões porque existe maior garantia de segurança, aí começaram a utilizar as árvores para o fabrico de carvão e da lenha, como fontes de energia, para cozinhar etc. Nesta região estão mais de um milhão de pessoas deslocadas, não existe gás butano suficiente, não existem fogareiros para melhor aproveitamento da lenha. O que se vê é a destruição gradual e muito acentuada nessas zonas.

Nas zonas do interior, este fenómeno não é frequente. Salvo ao redor das grandes cidades onde também se concentram deslocados. Todas aquelas áreas florestais também estão a ser devastadas, em parte por causa dessa concentração de deslocados ao redor das grandes cidades, refiro-me a Malange, Huambo e Bié onde que haviam grandes áreas florestais de eucaliptos os quais também foram devastadas; a situação põe-se com gravidade no litoral e ao redor das grandes cidades onde existem estes existem e é grande a sua pressão sobre o coberto florestal.

Em relação as áreas florestais, chamadas Florestas Tropicais este fenómeno não se põe com grande gravidade, refiro-me ás florestas do Maiombe, por exemplo onde é permitido anualmente tirar 120 mil metros cúbicos, hoje retira-se 25 mil metros cúbicos, estamos numa faixa sustentável. No Uíge e no Zaire não se explora madeira entretanto são áreas com um potencial que se pode explorar. No Bengo exploram-se 2% do potencial; significa que o perigo não está propriamente na Floresta Tropical mas sim na zona Litoral e nos arredores das grandes cidades.

Existe potencial para investidores estrangeiros no sector florestal em Angola?

Sim, eu creio que sim. Isto acontecerá em Angola como em vários países de África onde existem empresas estrangeiras e nacionais a fazerem exploração e transformação da madeira, só que nós estamos a aprender a fazer estas lições com vários países, africanos e outros. Nós somos membros da SADC, da Organização Africana da Madeira (OAB) e estamos a tirar lições. Assim que as condições do País o permitirem nós vamos saber como explorar esse nosso recurso de forma racional

Não está proibido o investimento estrangeiro mas o que nós pretendemos é que a nossa floresta seja explorada racionalmente dentro dos seus limites. Tem que se seguir as regras de uma exploração sustentável a curto prazo para não a exterminarmos. Nesta altura aparece a actividade do estado, representado pelo IDF (Instituto de Desenvolvimento Florestal) para fazer a coordenação da actividade privada no país.
Qual é a estratégia do governo para desenvolver a indústria florestal em Angola ?

O que nós pretendemos, é que se incremente a produção até aos limites sustentáveis. Esta é a nossa meta porque dará riqueza ao país e aos angolanos, dará empregos ás pessoas e alguma mais valia tanto ao sector privado como ao Estado. Isto significa que o estado angolano vai ter de fazer um esforço em vários sentidos: por vias de fundos de financiamento que é o caso do FDES, e alocar fundos para a indústria da madeira; por vias de créditos bancários ou por via de joint- ventures com empresas estrangeiras para a revitalizarmos o sector florestal. Esta é a nossa estratégia; se assim não for, Angola continuará a ter um défice da madeira igual ao que actualmente se vê a nível do mercado do País, com todos os prejuízos decorrentes deste fenómeno.

Que percentagem da capacidade de transformação de madeira em Angola está a ser utilizada?

Grande parte da indústria de transformação da madeira está paralisada. Hoje só 10% das indústrias de transformação da madeira trabalham no País; os níveis de produção ainda vão sustentando minimamente o mercado, mas logo que a indústria se for embora, haverá um défice muito acentuado de madeira. Em Luanda, Benguela, Huambo existe indústria de transformação. Quando se começar a reconstruir esse país (pontes, edifícios públicos, etc.) haverá uma grande procura da madeira e nessa perspectiva é necessário avançar-se para que a oferta da madeira corresponda a essa demanda. Vamos avançar para os mercados interno e externo para fazer com que o sector tenha um crescimento rápido e sustentável, de formas a dar a oferta e a demanda certa para que este país tenha muito mais madeira num futuro próximo.

Poderia dar-nos uns exemplos do investimento estrangeiro nesse sector ?

Existem intenções. Os nossos empresários têm tido contactos com empresas portuguesas, italianas, sul- africanas num sentido de cooperação e joint- ventures, mas sabe que as condições ainda não estão perfeitamente criadas para que haja uma injecção grande de capitais. Logo que as condições o permitirem vamos passar das intenções para os factos.

Que influência tem a situação militar?

Sabe que a exploração florestal é feita na floresta e é necessário que haja nela segurança. Estamos a caminhar para uma situação de desanuviamento militar, esperançados de que chegará a Paz. Quando essas condições especificas estiverem implantadas no terreno haverá grandes inversões de capitais nacionais e estrangeiros nessa área.

Os grandes mercados tradicionais da madeira conhecem a qualidade da madeira angolana. Refiro-me ao mercado alemão, ao italiano, ao português, ao sul- africano, e ao americano. Assim que as condições o permitirem, vamos ter não só empresas de direito angolano como estrangeiras.

O sector florestal representa a 1ª prioridade para o País no domínio da agricultura?

Não, o sector florestal não está na primeira prioridade no domínio da agricultura, A primeira prioridade é a produção de alimentos. Sabem que o país tem um grande défice alimentar; as produções feitas hoje não conseguem satisfazer a população. Para além desta existe também uma outra prioridade, que é a produção de culturas industriais, aquelas que servem de matéria prima para a indústria e nessas podem-se enquadrar as florestas. Não é a primeira prioridade mas deve estar enquadrada entre a segunda ou terceira da política de desenvolvimento desse país.

Qual é o papel do Instituto de Florestas na atracção de capitais estrangeiros para a industria florestal em Angola?

Nós como Instituto, temos a missão de fazer conhecer, a nível da região, de África e do mundo o nosso potencial. O que é que Angola tem como potencial, e com os nossos parceiros (que são as entidades privadas) fazermos política no sentido de atrair-se capitais. Isto passa com a implementação do marketing, dizer que empresas é que possuem, as suas próprias capacidades e que parceiros é que elegem para a sua actividade. Nós fazemos a política do estado, divulgamos o nosso potencial, o que pretendemos com as nossas florestas e os nossos parceiros fazem o marketing comercial deste património que exploram e transformam em riqueza para eles e para o estado. Resumindo: nós temos uma actividade política, coordenação metodológica ou seja, delineamento da actividade do sector privado para esta área.

Como se prevê a regularização da indústria florestal ?

Nós não vemos a floresta só como um bem económico mas como um bem social e cultural a preservar. Somos membros da Organização Africana da Madeira (OAB) e de outras, organizações internacionais ligadas á preservação do meio ambiente. Nós cumprimos integralmente com aquilo que se prevê para a preservação das florestas. Grande parte dos países do mundo, encaram com muita responsabilidade os princípios critérios, indicadores para a exploração das florestas e nós vamos aderir a eles no âmbito da nossa integração nestas organizações. Isto pressupõe que só se fará a exploração da madeira em áreas que atestarmos que estão a ser racionalmente exploradas. A nossa missão vai ser de, passar um certificado e dizer que esta madeira foi extraída de uma floresta racionalmente conduzida.

Mais adiante, vamos evitar a exportação a 100% de madeira em toro; vamos estabelecer uma quota. Há Países africanos membros da OAB em que hoje a exportação de madeira em toro é de 30%, o restante sai como madeira transformada ou semi transformada São regras que vamos também implementar logo que as condições o permitirem.

Em Angola o negócio está presente; temos um potencial bastante grande, embora estarmos a explorar muito pouco. Até atingirmos a exploração sustentável haverá bastante negócio a fazer-se.

Em sua opinião que papel têm as florestas a nível do meio ambiente mundial ?

As florestas têm o seu papel a nível mundial principalmente no que diz respeito ao ambiente pois são o seu pulmão, e o reservatório para a conservação de biodiversidade. A nosso nível essas florestas são nosso património, vamos utilizá-las de forma racional de forma a que cumpram o seu papel. Vamos ganhar dinheiro mas não vamos destruir aquilo que é nosso. Ao destruirmos toda a floresta estamos a destruir parte daquilo que é de todos nós e não de alguns.

Que apelo faz para que se invista no sector florestal em Angola?

Eu faço um apelo para que todos aqueles que já trabalharam em Angola ou o queiram fazer de uma forma directa ou indirecta, aqueles que negociaram ou o pretendam fazer, que o País continua aberto, que contactem os nossos empresários e os serviços do estado nos quais terão todas as informações possíveis sobre o negócio das madeiras em. Angola. As condições a breve prazo estarão criadas. A nossa política é aberta de formas que o investimento estrangeiro para o desenvolvimento será sempre bem vindo, não há restrições específicas salvo as prevista na Lei do investimento estrangeiro. Por exemplo existem em Cabinda 12 empresas aptas para o negócio. As portas estão abertas para o investimento no sector florestal.

Este País irá erguer-se e a madeira será uma matéria prima muito importante para a sua reconstrução. Temos que pôr mãos á obra para explorá-la e colocá-la á disposição do desenvolvimento.

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© World INvestment NEws, 2002.
This is the electronic edition of the special country report on Angola published in Forbes Global Magazine. February 18th, 2002 Issue.
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