Cabo Verde: Interview with Ana Barber

Ana Barber

Position: Presidente do Conselho de AdministraĆ§Ć£o da Cabo Verde TradeInvest (Cabo Verde TradeInvest)

2016-10-28
Ana Barber

Uma das primeiras coisas que o investidor observa quando tem que decidir se investe ou não num país é a estabilidade política. Cabo Verde tem também alternância dos partidos no governo o que mostra força institucional, e um dos melhores resultados da África em liberdade de imprensa, em corrupção e em qualidade democrática segundo a Freedom House, Transparency Internacional e The Economist Intelligence Unit, respetivamente. É também um país de IDM médio onde se garantem as liberdades individuais. Qual é o segredo para manter esse nível de qualidade e estabilidade democrática?

 


O segredo está na coesão do nosso povo. O povo cabo-verdiano tem uma unidade mística, é um povo determinado, que sempre lutou de forma guerreira contra as suas muitas adversidades. Antigamente tivemos períodos de grande seca e a nossa procura de melhores dias e de melhores condições contribuiu bastante para que a nossa unidade fosse coesa. O povo cabo-verdiano é um povo emigrante à procura de melhores condições, tendo emigrado muito, Cabo Verde tem criado um contacto forte com o mundo desenvolvido que acaba por influenciá-lo na sua forma de pensar, de querer mais e melhor e nunca deixar de ser ambicioso.

 

Como o povo cabo-verdiano sempre teve em vista crescer e desenvolver-se, esteve sempre no seu ADN a procura de estabilidade e democracia. Quanto à Freedom House em termos de liberdade, temos o nosso país em 1ª categoria, o que é importantíssimo, porque nós, quando falamos de democracia, temos de falar também da liberdade de expressão, liberdade jornalística e de imprensa que nos ajuda a crescer e a desenvolver. Quando a imprensa em Cabo Verde escreve, fá-lo sem medo e é assim que deve ser pois nós temos que usar uma democracia sem preconceito.

 

A nível social e em termos de desenvolvimento humano, Cabo Verde se encontra classificado em 3º lugar no ranking do continente africano pela sua qualidade de vida, pela taxa da iliteracia que é baixa tendo uma população jovem. Quanto à economia, temos liberdade económica, estamos em 1º lugar na CEDEAO e 3º em África no acesso à internet, 5º em África no desenvolvimento das infraestruturas e termos de benefícios fiscais sectoriais e garantias internacionais assegurados aos investidores.

 


Além da já falada estabilidade política e qualidade das instituições, quais são as outras vantagens que Cabo Verde oferece ao investidor estrangeiro? Quais são os sectores mais promissores do mercado cabo-verdiano?

 


Cabo Verde tem mão-de-obra qualificada, graduada e profissional. Tem 52 mil estudantes matriculados no secundário, tem 13 mil no superior, e 5 mil que estudam no estrangeiro. Cabo Verde tem também segurança jurídica e muitas oportunidades de negócios.

 

Um investidor que vem a Cabo Verde encontra sectores variados e com imenso potencial tais como o sector energético, o sector da agricultura, o sector das TICs, o turismo e o sector industrial. Todos esses sectores são para nós sectores chaves da economia.

 

O turismo é um sector tradicionalmente procurado pelos investidores e tem se desenvolvido muito pois o número de turistas tem aumentado também. Temos várias cadeias hoteleiras que estão já enraizadas em cabo verde. Temos um grande projeto no ilhéu de Santa Maria, do David Chow de 250 milhões, temos áreas novas como a saúde ligada à estética como é o caso do resort de Aloevera que vai surgir agora na ilha do Fogo. Este negócio trará pessoas que querem dedicar-se mais à cosmética e à estética medicinal. Temos outras áreas promissoras como as salinas na ilha do Sal, com as mesmas características que o Mar Morto em Israel. Na ilha de São Nicolau temos um mar com água excelente para os problemas de pele. No sector náutico, temos excelentes praias onde já fizemos alguns percursos náuticos de pesca desportiva.

 

É importante consolidar a economia do mar com o oceano fazendo assim crescer as atividades marítimas. Não vamos ficar só na pesca e transformação de pescado. Podemos e vamos dar um outro salto que é a valorização da posição estratégica de Cabo Verde. O bunkering, a manutenção e reparação naval e o handling portuário. Procuramos novas áreas de excelência e oportunidades de negócios através de indústrias marinhas e emergentes que é o uso sustentável dos recursos do mar.

 

As TICs em Cabo Verde fazem do pais um ponto tecnológico de referência em África. Exportamos alguma experiência para países como a Guiné-equatorial, através do NOSI (empresa pública do sector das TICs). O país dispõe de boas redes de recursos informáticos e o governo pretende, com base nessa área das TICs, criar parques científicos e tecnológicos. Vai fazer crescer e envolver outras instituições superiores da educação, ministeriais, e outras instituições nacionais e internacionais para ajudarem a concretizar tudo isso. No fundo o parque científico é altamente importante para o desenvolvimento de todo o país com qualidade.

 

Na agricultura estamos a passar de uma agricultura de subsistência para uma de industrialização onde pretendemos produzir para comercializar e exportar. Para a economia crescer e ganhar um novo âmbito.

 

Estamos a trabalhar para reduzir a carga fiscal, os obstáculos e fazer com que as empresas se estabeleçam no país e possam exportar para os EUA (no quadro do AGOA –African Growth and Opportunity Act-, o novo acordo assinado), para EU, os países africanos, sobretudo os da CEDEAO.

 

É importante mudar a forma de pensar, porque é possível ir mais além. Temos de envidar esforços, no sentido de capacitar os nossos recursos humanos para se revelarem bons técnicos. A exportação deverá ser uma das nossas prioridades. O Governo deverá criar incentivos para tal.

 


Outro dos objetivos do novo governo é colocar o país dentro do top 50 do ambiente de negócios (DBR) tendo como alvo principal a atracão do investimento direto estrangeiro e a criação de empregos. Quais são as reformas que o Governo vai implementar para facilitar o estabelecimento das empresas estrangeiras e a atração do FDI para tornar Cabo Verde mais atrativo?

 


Para o governo, melhorar o ambiente de negócios terá de passar pela simplificação, desburocratização e harmonização dos vários sectores: político, institucional, social e o educativo. O governo terá de criar um ambiente favorável de forma a promover e incentivar os investidores a serem mais audazes e a sentirem-se mais confiantes e seguros nos negócios em Cabo Verde.

 

Bom ambiente de negócios significa segurança jurídica, menos impostos, mais benefícios fiscais, mais oportunidade de negócio e sobretudo reformar a parte fiscal, que precisa reduzir e ter organização interna. A Cabo Verde TradeInvest terá um papel importantíssimo, seremos o agente de intermediação entre Cabo Verde e os novos investidores. CV TradeInvest será o parceiro do investidor que venha cá e terá todo o nosso acompanhamento. Seremos a porta nº1, e abriremos todas as outras portas ao investidor, estaremos aqui a fomentar e a acompanhar todo o investimento que entre em Cabo Verde e iremos acompanhar o investidor durante todo o processo.

 


As exportações são um dos campos onde as empresas cabo-verdianas têm mais lugar para se desenvolver. Até ao momento, as exportações têm sido maioritariamente para a Europa: Espanha e Portugal. Cabo Verde tem agora as portas abertas para a CEDEAO e os EUA (com o AGOA). Como vocês pensam acompanhar os empresários para poder começar a exportar para esses mercados que agora podem ser mais bem aproveitados?

 


Nós trabalharmos através de um plano estratégico e só assim atingiremos os nossos objetivos. Vamos criar condições a nível interno para ter cá mais empresas e fazer mais parcerias com as grandes empresas asiáticas, americanas, africanas e do médio oriente. Temos que trabalhar nas parcerias com as empresas que trarão o know-how e a parte financeira.

 

Antes o produto de exportação era específico, agora existem outros nichos de produto a nível dos EUA e da África que dantes não tínhamos. Mais do que as parcerias, fomentaremos as empresas internacionais para que se estabeleçam cá para criar mais concorrência no mercado cabo-verdiano. A concorrência e a competitividade são muito saudáveis e é um ponto forte para que a nossa economia se possa desenvolver. Eu tenho de criar portas para que outras empresas entrem e assim teremos melhoria na qualidade dos serviços que exportaremos.


O programa do governo implica trabalhar a nível interno na capacitação dos nossos recursos e qualidade do serviço para que os nossos nichos também estejam em função do que os mercados precisam. A Cabo Verde TradeInvest, juntamente com o governo, dará atribuição e diplomacia económica. Nós trabalharemos em colaboração com os nossos parceiros comerciais que representam esses mercados.

 


Cabo Verde TradeInvest assinou recentemente, em representação de Cabo Verde, uma nova carta de colaboração EUA-Cabo Verde para aumentar a competitividade das empresas cabo-verdianas para aproveitar melhor as vantagens do AGOA para a exportação para os EUA. O que é que esse novo acordo significa em termos práticos para os empresários cabo-verdianos? Qual é a importância do mercado EUA para os empresários e a suas potencialidades?

 

 

AGOA é importantíssimo para Cabo Verde. A Cabo Verde TradeInvest foi convidada a participar na conferência dos EUA recentemente. Sentimos que existia uma necessidade de assinar primeiro um memorando e fazer um plano estratégico internacional. Nós temos a necessidade de formar tecnicamente os recursos humanos, formação relativa ao que é necessário para estar no mercado e sobre os nichos que devemos trabalhar. É preciso mudar a mentalidade do cabo-verdiano a partir de agora, é urgente produzir, e não apenas os nossos produtos, temos que diversificá-los. Neste contexto, vamos criar uma instituição que fará a certificação dos produtos para exportação.


Achamos importante assinarmos o memorando para podermos ter acesso depois a outras operacionalizações. Já começamos a trabalhar em como se vai operacionalizar todos os acordos. Como se vai ter acesso as operações, formações e tudo que se vai trabalhar na capacitação das pessoas que será o mais importante para pôr em prática este acordo assinado.

 


A Cabo Verde TradeInvest foi criada faz alguns meses sobre as bases da antiga Cabo Verde Investimentos”. O que é que a Cabo Verde TradeInvest tem para oferecer aos potenciais investidores estrangeiros que queiram entrar neste mercado? Quais são os serviços oferecidos?

 


Nós temos o serviço de acompanhamento, assessoria, orientação jurídica e informativa ao investidor. Estamos neste momento a trabalhar numa plataforma virtual em que os investidores não terão a necessidade de se deslocarem sempre a Cabo Verde para obter algumas informações, tratar de alguma papelada e pedido de alguns documentos. Isso irá reduzir os custos dos investidores que não terão que se deslocar a Cabo Verde com tanta frequência. Estamos a trabalhar para que todo o processo, desde o momento que o potencial investidor mostra interesse até que o seu investimento seja feito, seja tratado de forma rápida, concisa e prática.

 

O nosso papel é de parceiro. Queremos criar e fomentar sector privado que é urgente e necessário para o nosso crescimento e desenvolvimento. Vamos, junto ao governo, sugerir melhorias no ambiente de negócios, de benefícios fiscais, de promoção da exportação, das alfandegas... Queremos ter um diálogo sempre aberto sobre as limitações e inconveniências que os investidores encontram e estão a sentir para poder remover obstáculos.


A mudança, como o nosso Primeiro-Ministro costuma dizer, é uma mudança de atitude em relação ao privado, à economia e às empresa. As empresas precisam de uma atenção especial. São as empresas que criam postos de trabalho. O motor do crescimento de uma economia passa pelas empresas privadas. Esse investidor que virá, terá outros mercados através de Cabo Verde. Nós somos uma porta de entrada para o continente e temos acesso através da CEDEAO: através de Cabo Verde já têm acesso a um grande mercado.

 


Cabo Verde TradeInvest tem que atrair e seduzir a comunidade investidora de uma forma proactiva, não é só aguardar que batam à sua porta. Para isso é vital criar uma imagem internacional e divulgar as suas vantagens. Como vai Cabo Verde TradeInvest desenvolver essa tarefa de promoção? Quais são as suas estratégias e meios para posicionar Cabo Verde no mercado internacional?

 

 

Temos um programa muito bem definido onde iremos dar prioridade ao desenvolvimento de todas as ilhas. Cabo Verde só crescerá como um todo se todas as ilhas se desenvolverem num âmbito de crescimento integrado e descentralizado. Vamos ter um estudo onde saber os sectores prioritários, o que cada ilha tem para oferecer e o que precisa. Iremos estudarestes projetos, identificados por ilha, por sector, e fazer essa promoção junto dos mercados potencialmente interessados. Mas primeiro tem de se fazer o estudo e ter as recomendações dos diferentes mercados.

 

Esta promoção irá ser feita junto dos sectores e motores chaves. Tem de haver uma sintonia entre o que Cabo verde vai comunicar e quer potenciar e o que o investidor procura. Vamos trabalhar nos road shows, na divulgação via TICs e na diplomacia económica.

 

Cabo Verde tem estabilidade política, está geograficamente bem situado entre Europa, África e América, o que permitirá fazer de Cabo Verde um hub de serviços. Em Cabo Verde o investimento está protegido. Aqui o investidor tem a segurança de poder vender, exportar e se expandir com comodidade. Em termos das ligações estamos também a trabalhar nesta área para que as ligações aéreas e marítimas deixem de ser um desafio e passem a ser uma facilidade ao desenvolvimento. Estamos a trabalhar também na área da saúde e da terceira idade, pois aqui temos todo o ambiente e acompanhamento dentro dessas áreas (uma vez que a permissão de residência para os reformados é vitalícia em Cabo Verde). Outro sector com oportunidades de investimento é o cultural: temos muitos artistas e cantores e isso é digno de ser explorado.


Iremos trabalhar para que os investidores venham e queiram estabelecer-se de tal forma que não queiram voltar tão cedo aos seus países.

 


Para finalizar, qual é a mensagem que a Ana quer transmitir aos potenciais investidores e leitores em relação ás vantagens que Cabo Verde oferece ás empresas e investidores?

 


Cabo Verde é e será o melhor destino de investimento dos próximos tempos. A estabilidade social e política, a qualidade das instituições aliadas à boa governação, são ativos que fazem de Cabo Verde um destino seguro para os investidores. A Cabo Verde TradeInvest é o canal adequado, ideal e estratégico para a concretização de negócios em Cabo Verde. A inovação, a qualidade, a informação que disponibilizamos aos investidores, a melhoria do ambiente de negócios que queremos contribuir e que vamos conseguir, a confiança nas pessoas e nas instituições: é a marca que nos distingue de outros destinos de investimento. Queremos trazer mais e melhores investimentos para Cabo Verde numa perspectiva win-win: ganham os investidores fazendo negócios e ganha Cabo Verde com mais crescimento económico e mais empregos.

 

Bem-vindos a todos os investidores que venham descobrir o dinamismo e a energia especial de Cabo Verde!

 


An interview conducted by Alejandro Dorado Nájera (@DoradoAlex) and Diana Lopes.