Mozambique: Interview with Albino Celestino Mahumana

Albino Celestino Mahumana

Diretor Geral (Instituto Nacional do Turismo - INATUR)

2016-05-09
Albino Celestino Mahumana

An interview conducted by Alejandro Dorado Nájera (@DoradoAlex) and Diana Lopes

Mozambique têm uma taxa de crescimento invejável para muitos países vizinhos e do resto do mundo. Segundo o sr. Albino, quais são a principais vantagens do Moçambique comparado com os países da região desde um ponto de vista económico?

A maior vantagem económica de Moçambique é a sua diversidade. O país possui uma diversidade de recursos naturais ainda por serem explorados. A sua localização estratégica é outra grande vantagem económica. A costa de mais de 2700 km é uma vantagem comparada com os países do Interland que necessitam de estar ligados a Moçambique para o desenvolvimento dos seus próprios, mercados e comércio. Na área do turismo Moçambique tem uma vantagem de poder oferecer a combinação de pacotes com bastante facilidade e num curto espaço de tempo. Como por exemplo do facto do turista poder ter acesso à praia e apreciar a selva e fauna bravia no mesmo local.

Um dos desafios que você tem na frente do INATUR e a capacitação dos profissionais do sector, que pode fazer a diferença com outros países na região. Como Vossa Excelência o Ministro Dunduro falou “o leão é o mesmo aqui em Moçambique que na África do Sul, o que faz a diferença é são as pessoas que estão ao redor dele”. É também uma oportunidade para dar poder e beneficiar as comunidades locais. Quais são as iniciativas que você está empreendendo neste sentido?

O governo definiu a área do turismo como um dos pilares para a dinamização do desenvolvimento socioeconómico e foi estabelecido um plano de acções prioritárias e a área da formação consta das prioridades pela sua relevância para elevar a competitividade do destino Moçambique através da qualidade e dos preços. Em termos de estratégias, precisamos de criar centro de formação dos formadores de profissionais do sector. É uma abordagem que está a ser superior ao que era antes.  Até agora a maior preocupação era de formar as pessoas para trabalhar, mas pretendemos concentrarmo-nos em formar as pessoas que depois vão formar os outros profissionais. Estamos por isso agora concentrados em criar a semente, a base de formação dentro do nosso pais. É uma formação que tem uma perspetiva futura de criar uma estrutura sólida dentro do país para formar trabalhadores.

Tal e como você explicou ao nosso Diretor na passada FITUR de Madrid, e segundo os dados do Banco Mundial, o desempenho do sector turístico moçambicano nos últimos anos tem sido impressionante. De quase 700.000 visitantes no ano 2006 o pais passou a acolher quase 2 milhões actualmente . Porém, têm vários riscos na frente como a competição de países mais conhecidos pelo turismo como a África do Sul ou a Tanzânia com turismo mais internacional uma vez que o turismo Moçambicano apesar do número de turistas ter aumentado, o turismo é mais local e Regional. Quais são os desafios do sector e as medidas que o INATUR está implementado para evitá-los e o que está o INATUR a fazer para chegar ao mercado internacional como América e Europa?


O governo em Dezembro aprovou o novo Plano Estratégico do Turismo. Este novo plano apresenta uma clarificação de alguns aspectos. Um deles foi a aposta na formação e na capacitação de formadores e trabalhadores do sector como já referi na minha resposta anterior. Outra é a aposta no marketing e tentar chegar aos mercados internacionais que são não só USA, europa mas também a Ásia (Índia e a China por exemplo). Estamos também a apostar como disse muito no marketing digital porque temos que nos actualizar e porque a nova plataforma da internet veio abrir novos mercados onde temos que estar presentes. Isto significa que hoje em dia fazemos a gestão de redes sociais, temos que trabalhar muito focados no plano de comunicações para ter a certeza que acompanhamos as tendência do mercado e a satisfação dos nossos visitantes. Esta abordagem tem o objectivo de ter mais turistas de além-mar e este é o maior desafio que nós temos actualmente. O governo também redefiniu as zonas prioritárias de actuação, que antigamente eram 17 e agora passaram a ser 5. Estas cinco áreas são: cidade de Maputo (turismo de negócios), Vilankulo (turismo de sol e praia), Gorongosa (turismo de aventura e ecoturismo), Quirimbas (sol e praia e turismo cultural) e por fim Niassa (turismo de aventura). A visão é concentrar os recursos que existem para desenvolver estas 5 áreas do pais e convidar o sector privado a investir na perspectiva de oferecer pacotes atractivos e competitivos.

Dentre os subsectores turísticos nossos leitores estão muito interessados no turismo de negócios e o turismo de luxo. Qual é o estado atual desses subsectores do turismo no pais?

O turismo de negócio está mais concentrado na cidade de Maputo e tem tido uma procura estável. Alguns centros urbanos fora de Maputo e dentro de Moçambique também têm tido uma procura estável de turismo de negócio. É preciso ainda assim usando Maputo como Hub no sentido de melhorar ainda mais estes números de turismo de negócio.
 Para o turismo de luxo, temos a zona de Vilankulo e das Quirimbas onde temos variado planos traçados de desenvolvimento destas áreas. Estamos neste momento a discutir a dinamização do projecto do Arco Norte que está geograficamente próximo das Quirimbas e da Ilha de Moçambique que é a zona de Moçambique que atrai maior número de turistas de luxo. A ideia é atrair o maior número de visitantes para Vilankulo, Quirimbas e Crusse & Jamal. São projectos em carteira que estamos a discutir já com parceiros para avançarmos com investimentos que possam criar uma massa critica. No caso de Crusse & Jamali precisamos de instalar infra-estruturas de acesso e outros equipamentos de caracter público com vista a atrair investimentos que possam incrementar número de camas na zona nortes. Uma grande vantagem desta zona de Crusse & Jamali é a proximidade do aeroporto de Nacala que é uma mais-valia e encurta o tempo de distância entre a europa e Moçambique. Outra das vantagens desta zona para investidores é o facto de ser uma zona económica especial com benefícios fiscais, que incluem isenção de pagamento de algumas taxas por algum período, o que é um pacote bastante atractivo tanto para investidores estrangeiros como nacionais.


Uma das tarefas rencomendada quando foi nomeado Diretor-Geral do INATUR pelo O primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário foi a promoção do turismo cultural e da moçambicanidade. Quais são os principais atrativos culturais e quais as medidas em implementação para a divulgar a cultura moçambicana além fronteiras?

O turismo cultural também faz parte do pacote que estamos a desenvolver. Temos consciência que a parte cultural é aquela que melhor nos diferencia, é aquela que torna o produto Moçambique como único. Há várias acções que estamos neste momento a desenvolver até para incluir as comunidades de uma forma mais activa no próprio processo de criação do produto. À pouco tempo por exemplo foi criado o programa do roteiro turístico do bairro da Mafalala aqui na cidade de Maputo e isso já foi o primeiro passo deste processo de trazer a cultura dentro do produto turístico Moçambicano. Há um maior envolvimento da comunidade no sentido de envolver a cultura no pacote Turístico Moçambicano.


A imagem de Moçambique no exterior não é adequadamente e suficientemente percebida no exterior pelos visitantes potências de alguns países. Como é que o Ministro deseja que Moçambique seja percebido no exterior com uma imagem justa e atraente? Quais são as medidas a implementar?

A imagem que queremos transmitir é uma imagem de Moçambique como local de mosaico cultural, abundante em recursos naturais e com muito por descobrir. Moçambique tem uma fauna marinha diversificada e 2700km de costa que oferece toda a variedade de praias que um turista pode procurar.
 
Em termos de medidas, nós estamos a trabalhar no desenvolvimento de marketing digital, reestruturamos o website, estamos a preparar ligações com nossos parceiros e outros Mídias para pôr Moçambique mais conhecido e exposto mundialmente. Mas estamos também a melhorar na imagem e comunicação, queremos ter uma melhor comunicação com os potenciais turistas.

Os Ministério têm a tarefa da concepção das políticas públicas relativas ao turismo mas é o INATUR o órgão encarregado da implementação dessas políticas. Como é a coordenação e a relação entre o Ministério e o INATUR? Pode explicar também a relação com o INATUR e o rol de órgãos como o Mozaico do Índigo SA e a Gazeda (Office for Economic Areas with Accelerated Development)?


Nós somos um Instituto Público, um braço executivo, mais ao nível intermedio entre a política a gestão do negócio e a gestão comercial. Estamos numa posição intermedia. Para operação na esfera comercial criamos uma sociedade que é a Mozaico do Índigo. Esta foi criada pelo INATUR em parceria com o Instituto de Gestão das Participações do Estado - a instituição que gera as participações do estado- e criamos esta empresa para poder actuar comercialmente. Mozaico do Índigo funciona a nível comercial, é tratada como empresa privada que deve procurar parcerias para desenvolver projectos de investimentos nas zonas de interesse turístico, fazer investimentos, etc. Pode agir como operador, coisa que o Ministério ou o INATUR não podem fazer.

Estamos a pensar se, com a definição das Acções Prioritárias, a Mozaico do Índigo pode ter um papel relevante na execução, em traçar os pacotes, em vender os pacotes, entre outras importantes acções.

No caso concreto de Crusse & Jamali, temos a Gazeda, que é uma instituição do Estado que gera as áreas e zonas económicas especial. Fazem gestão do espaço como um todo e nós fazemos a gestão mais focalizada ou seja, os cerca de 1,750 Há especifica para o desenvolvimento do turismo. Há uma coordenação enorme, porque eles têm um papel de base e nós somo praticamente os executores de uma área temática especifica.

Num plano mais pessoal, e como você conhece, a audiência da Harvard Business Review é internacional e está composta principalmente de CEOs e de decisores políticos interessados na gestão e na direção. Você têm formação e experiência internacional, tendo trabalhado com a Banco Mundial, e faz quase um ano que esta desempenhando o posto de Diretor-Geral do INATUR. Com a sua experiência, quais são as lições e aprendizagens que valoriza mais da sua etapa na frente dum órgão tão importante como o INATUR?


A lição é que para qualquer gestão tem que se ter em consideração o ambiente em que se encontra a instituição ou objecto. O processo não é linear. Não somente há praticas que são comuns e são exigíveis para o gestor e que a pessoa tem que ter atenção, mas tem que ter muita atenção também em questões específicas, que podem ser de caracter cultural. Isto equivale dizer que não é a mesma coisa trabalhar para um projecto e trabalhar numa instituição como esta. Aqui a pessoa têm que ter muita atenção sobre o potencial e gerir as expectativas e saber que as pessoas precisam de informação e formação, e o gestor têm que se dar conta e aproveitar essa massa de capital humano e formar as pessoas. Não pode esperar ter resultados se não há investimento na área de formação.

O segundo aspeto é que, sendo um gestor, têm que estar muitas vezes aberto ás criticas e ser proactivo. Nada é linear e a pro-atividade é muito importante. Não se limitar as regras, mas sem colocar em causa o seu cumprimento, dar espaço a que os colaboradores se sintam envolvidos e dêem o seu contributo para execução das tarefas que lhes são colocados e em prol dos objectivos traçados. Em poucas palavras, avançar sem transgredir as normas, mas estimular a  proactividade e não esperar que os outros resolvam as coisas porque a sua responsabilidade chega até um ponto e não se pode fazer nada mais além da sua responsabilidade. Temos que ser proactivos.

Para finalizar, qual é a mensagem que você quer transmitir aos potenciais investidores e leitores da HBR relativamente a  Moçambique e o sector da cultura e do turismo?
A mensagem que gostaria de transmitir é de que para os que conhecem Moçambique, o país como destino vai mudar para melhor e convidamos a voltar para testemunhar cada passo que se dá com seu envolvimento e contributo. Tenho fé que sempre vão querer voltar.

Para os que não conhecem, não sabem o que perdem.

Isso não o digo porque sou moçambicano, mas é o que tenho ouvido dos próprios visitantes.
Não estou a dizer com isto que não há problemas em Moçambique. Temos problemas, como tantos outros lugares.

Também sabemos que há pessoas muito amigas de Moçambique com boa vontade que ajudaram muito ao País. Os próprios visitantes também têm ajudado Moçambique cada vez que nos visitam

Moçambique está de braços abertos para receber a todos que querem visitar.