Mozambique: Interview with Vossa Exelência Silva Dunduro

Vossa Exelência Silva Dunduro

Ministro de Turismo e Cultura (N/A)

2016-04-20
Vossa Exelência Silva Dunduro

Moçambique tem uma taxa de crescimento invejável para muitos países vizinhos e do resto do mundo. Segundo o Sr. Ministro, quais são a principais vantagens de Moçambique comparado com os países da região desde um ponto de vista económico?

O potencial turístico de que o País dispõe, caracterizado por uma longa costa, com 2.700 km de extensão, que alberga a vida marinha, de espécies endémicas, baías fascinantes e excelentes praias de águas quentes e cristalinas, constitui a maior vantagem sobre a qual o Governo pode apostar no turismo de sol e praia, como sua marca distintiva que, quando combinada com outros produtos turísticos como a selva e o rico mosaico cultural, reflectindo uma fusão africano-europeia-asiático-árabe, faz de Moçambique um destino turístico preferencial. A este potencial, associa-se a localização geoestratégica de Moçambique e a sua proximidade com o maior destino turístico da região austral de África, a África do Sul centro de conexões aéreas que torna o País num ponto logístico eficiente, (marítimo e terrestre), para os países do Interland, oferecendo um conjunto de oportunidades para a atracção de investimento em turismo, contribuindo para o rápido crescimento socioeconómico, como parte da estratégia de desenvolvimento e estabilização macroeconómica.Com efeito, o turismo tem vindo a desempenhar um papel importante na economia moçambicana, em grande medida, como resultado do crescente investimento realizado, nos últimos anos, quer pelo sector público quer pelo sector privado. Por isso, a contínua atracção de investimento privado, particularmente o investimento directo estrangeiro, constitui uma prioridade para o sector do turismo, que é um dos pontos-chave para o desenvolvimento económico e social do País e também para o combate à pobreza. E, o incremento das chegadas internacionais cuja média dos últimos anos situa-se em cerca de 1,4 milhões, dos quais 72% do Continente africano, 20% da Europa e 8% do total de visitantes de outros lugares, como por exemplo, América do Norte e Ásia, bem como a massificação do turismo doméstico que actualmente movimenta, em média, 4,1 milhões de turistas, constitui igualmente uma prioridade do sector.


Já fez em Janeiro 2016 um ano do seu mandato. Segundo o seu ponto de vista, quais são as principais realizações do seu governo neste primeiro período de governo?

No contexto do turismo e da cultura nós tivemos grandes avanços. Primeiro porque nós temos a vertente cultural cuja função principal é a unidade nacional, a paz e o progresso. Isto porque nós percebemos que a diversidade étnico-cultural que o país possui, para nós é um ponto de coesão. Portanto, temos a diversidade cultural como um mosaico a ser aproveitado para o desenvolvimento do país. Nessa perspectiva desenvolvemos vários projectos com vista à valorização do país, ao desenvolvimento e à criação da cidadania dos Moçambicanos, tendo em como referência a resistência á ocupação estrangeira, a constituição de movimentos nacionalistas e, a formação da Frelimo que conduziu a Luta de Libertação Nacional que terminou com a proclamação da independência nacional a 25 de Junho de 1975. Isto tudo tem funcionado como um pacote turístico-cultural e histórico para a promoção da moçambicanidade.

No contexto do turismo, nós aprovamos no ano passado o segundo Plano Estratégico De Desenvolvimento do Turismo 2016-2025 cuja visão é: Em 2025 Moçambique será um dos destinos mais vibrantes, dinâmicos e exóticos de África, famoso pelas suas notáveis praias e atracções costeiras, sensacionais produtos ecoturísticos e uma cultura impressionante com uma indústria turística crescente e sustentável. É um plano que se concentra no desenvolvimento de seis áreas prioritárias, porque temos a consciência de que sendo um país vasto temos que determinar prioridades. Escolhemos algumas especificidades do turismo, como é o caso do turismo de negócios ou eventos que está mais concentrado na capital do país, Maputo. O turismo ecológico, é a segunda área escolhida dada a diversidade e beleza das nossas áreas de conservação da natureza. Neste caso os nossos principais focos são o Parque Nacional da Gorongosa, a Reserva Nacional do Niassa e a Reserva Especial de Maputo onde neste último temos a possibilidade de combinação de sol e praia à selva.

Outra das áreas é a do turismo de sol e praia que está presente em toda a costa moçambicana. Não poderíamos deixar de fora o turismo comunitário que está relacionado com aspectos sócio-culturais. Tomámos a Ilha de Moçambique como um dos nossos principais focos dada a sua visibilidade mundial, uma vez declarada pela UNESCO património da humanidade. A Ilha de Moçambique foi a primeira capital de Moçambique e é o ponto mais alto de cruzamento cultural entre vários povos, europeus, africanos, asiáticos, árabes, entre outros.


A imagem de Moçambique lá fora nem sempre é justa. Qual é a imagem que o Ministério quer passar sobre Moçambique além fronteiras e que medidas está a tomar nesse sentido?

Nós estamos a trabalhar no Marketing de Moçambique conjugando várias formas de divulgação do país porque acreditamos que só se procura o que se conhece. Temos uma instituição sob a nossa tutela cuja função fundamental é a promoção do país sob o ponto de vista turístico. Na sequência da aprovação do segundo Plano estratégico para o desenvolvimento do turismo, estamos em coordenação com os vários intervenientes no sector do turismo em especial o sector privado para adequá-lo a nova dinâmica do sector do turismo. Para além da nossa exposição no exterior através da nossa participação em feiras internacionais e seminários de promoção de investimentos, lançamos a nível nacional, uma feira internacional designada de “Descubra Moçambique”. Estamos portanto a apostar no marketing turístico como elemento fundamental para levar o país além-fronteiras.

Tal e como você explicou ao nosso Diretor na passada FITUR de Madrid, e segundo os dados da Banca Mundial, o desempenho do sector turístico moçambicano nos últimos anos tem sido impressionante. De quase 700.000 visitantes no ano 2006 o pais passou a acolher 1.900.000 turistas em 2013. Porém, nos últimos anos, a estatística têm experimentado uma queda ao passar dos 2.100.00 em 2012 à cifra atual. Quais são, por um lado, os segredos que explicam o desempenho do turismo moçambicano e, por outro lado, os riscos e situações que podem explicar a perda de atrativo nesses últimos anos e as medidas que o ministério empreenderá para corrigí-lo?

Uma das principais formas é a divulgação do país, mas mais do que isso temos que apostar na formação para termos uma maior qualidade dos nossos serviços. Julgamos que o maior promotor de um país, além de todos os instrumentos é o próprio turista. O turista que vier a Moçambique e esteja hospedado em uma das estâncias e, se for bem servido e bem recebido, ele próprio é um instrumento de divulgação e de promoção do país. Estamos agora a apostar nas campanhas de bem - servir e de formação em coordenação com o sector privado. Estamos ainda em coordenação com o Ministério de Ciências, Tecnologia e Formação Profissional para a construção de hotéis-escola nas três regiões do país no Centro, Norte e Sul. Além disso, estamos também a criar condições para que aquilo que tem a ver com a nossa moçambicanidade, a nossa forma de ser e de estar sejam um dos pratos fortes para atrair os turistas. Pensamos que o leão que está no Quénia não é diferente do que está na Gorongosa, a diferença está na maneira de ser das comunidades circunvizinhas, suas identidades culturais particulares, seus sabes e suas práticas, em fim o seu património tangível e intangível. São estes valores únicos, vivenciadas pelos turistas que os leva a retorna ao país. Pretendemos com isso dizer que, estamos a investir muito na perspectiva cultural, naquilo que diferencia os homens, o que fascina os turistas por ser experiencias únicas.
Deixe-me dizer uma nota relativamente ao número de visitantes. Nós até podemos ter aumentado um pouco o número de visitantes, mas em termos de receitas os números desceram no ano passado. Uma das perguntas que fazemos é porque é que as pessoas gastam pouco dinheiro ao fazer turismo em Moçambique? Essa é uma preocupação que temos como Ministério e como Governo. Os visitantes deslocam-se a Maputo, passam duas noites ou três no Hotel e ficam com a sensação que não têm mais nada para ver. Tendo pouco tempo de permanência no país, obviamente os gastos são menores. Uma das formas de colmatar este facto é a definição de novos roteiros turísticos que incluam visitas a instituições histórico-culturais assim como a participar ou visitar locais onde haja manifestações culturais, principalmente nos centros urbanos. Isso evita que o turista permaneça apenas em hotéis. Os roteiros a ser desenhados alargarão o raio para o turista visitar locais que marcarão a sua permanência no país.


O turismo de Moçambique é mais regional. Existe algum plano para chegar ao mercado internacional e sobretudo explorar potenciais visitantes em nichos de mercado não muito explorados como a América do Norte ou a Europa (não lusófona) ?

Em decorrência da aprovação do Plano Estratégico do Desenvolvimento do Turismo 2016-2025, o Ministério da Cultura e Turismo está a trabalhar na elaboração da nova Estratégia de Marketing, por a forma a adequá-la ao desenvolvimento e exploração de novos mercados.

O Sr. Ministro, já fez aqui referência à Moçambicanidade. Quais são as características da Moçambicanidade?

Somos um povo afável, de fácil convívio, os que vêm a Moçambique, certamente, sentem-se em casa e quase sempre voltam a visitar-nos. Uma das nossas melhores características é a hospitalidade e a facilidade de inclusão. Somos um povo muito feliz e desposto a oferecer o que tem de melhor: a cultura na sua mais diversificada forma, a gastronomia, artesanato, canto e dança, entre outras manifestações. O turista que visita Moçambique em pouco tempo sente-se em casa. Como já fiz referência, as pessoas facilmente se sentem inclusas, por isso, em pouco tempo, o turista facilmente se integra social e culturalmente nas comunidades receptoras.

Moçambique tem projetos como o Arco-Norte e Zonas Especiais de Interesse Turístico. Quais são esses projectos e oportunidades para o investidor estrangeiro?

Após a conclusão do Projecto Arco Norte, o Governo decidiu seleccionar algumas áreas e declarar como Zonas de Interesse Turístico; Existem cerca de 7 zonas formalmente declaradas como sendo de interesse turístico, com inúmeras oportunidades para o investimento directo nacional e estrangeiro. A título de exemplo:

(i)    Hotel de Negócios na Cidade de Pemba – tendo em conta o desenvolvimento do sector dos recursos minerais, há um espaço reservado de cerca de 1400 m2 para a construção de um hotel de 160 a 240 camas, virado para o segmento de negócios dentro da Cidade de Pemba (Província de Cabo Delgado).
(ii)    Resort de Chiuanga (Metangula, Província do Niassa) – tem igualmente uma oportunidade de implantação de um Resort de praia em Metangula de 125 camas.
(iii)    Hotel Omuhipiti- Hotel de 80 camas situado na Ilha de Moçambique (Província de Nampula) que será alvo de concurso público em breve para a sua reabilitação e gestão.

Existem também os chamados projectos âncoras de desenvolvimento, a título de exemplo foi eleita a área de Crusse e Jamali, que é agora Zona Económica Especial; o projecto âncora de Inhassoro, que foi transformado em Zona de Interesse Turístico, entre outros.

O Sr. Ministro já fez referencia ao INATUR. Qual é a principal função do INATUR e como é a relação do INATUR com o  seu Ministério?

O INATUR – Instituto Nacional do Turismo é a instituição que tem por fito assegurar o fomento e coordenação das iniciativas e actividades que dizem respeito ao turismo, estimular as que com ele se relacionam ou concorram para a sua valorização e promover o produto turístico nacional. Em suma, é uma instituição tutela pelo Ministro da Cultura e Turismo e é a instituição executora das políticas do turismo.

A nível pessoal, o Sr. Ministro é um artista antes de Ministro. Você tem a Mulher guerrilheira na sua obra, qual é o significado da mesma?

Sim, porque a mulher guerrilheira representa ainda a maioria das mulheres todos os dias luta pela melhoria das condições de vida e, por essa via, contribuir para a construção de uma sociedade cada vez menos desigual. Para a redução das assimetrias regionais. A redução das desigualdades sociais só se opera com trabalho e dedicação. As mulheres que flutuam em minhas telas são as que como eu, costuram o presente e o futuro gerações. Ao nível do governo, as mulheres ocupam espaço especial. Somos dos poucos governos em África e no mundo onde a mulher ocupa lugares cimeiros para a decisão da vida do nosso país.
Na minha produção artística a mulher é símbolo de luta pela igualdade de oportunidade. Admiro aquela que trabalha sem se orientar pelo relógio; sem viatura, mas percorre quilómetros e quilómetros com sua criança ao colo; muitas vezes nem sabe se os filhos terão pequeno-almoço no dia seguinte; aquela que só volta a casa quando o sol se esconde e ilumina outros cantos do globo, aquela mulher, que luta e logra sucessos para a formação dos filhos. Mulheres que lutam para os filhos se formarem em universidades porque sabem que o conhecimento é dos mais importantes instrumentos para o desenvolvimento do país. É essa mulher que eu retrato em minhas telas, eu acho que a nossa mulher é autêntica guerreira. Não estaríamos aqui se ela não existisse.

O Sr. Ministro antes de ministro, é um reconhecido artista. Como o Sr. Ministro sabe, a audiência da Harvard Business Review está composta principalmente de CEOs e de decisores políticos interessados nas práticas de gestão. Com a sua experiência, quais são as lições e aprendizagens que valoriza mais da sua etapa na frente dum ministério tão importante como o Ministério de Cultura e do Turismo?

Uma gestão participativa e inclusiva onde se partilham responsabilidades. Uma gestão orientada para os resultados onde as dificuldades são transformadas em oportunidades. Uma gestão reorientada para o cumprimento do Programa Quinquenal do Governo, que justifique os objectivos que levaram o povo a eleger-nos. Privilegiamos a comunicação e interacção constante com o sector privado, o principal vector para a realização dos nossos planos económicos e sociais. Uma gestão também que se orienta pelos planos estratégicos das áreas da Cultura e Turismo, instrumentos fundamentais para a concretização dos objectivos do Governo no concernente a políticas especifica dessas áreas. Os artistas, promotores culturais e turísticos, artesãos, associações económicas, movimentos sindicais das áreas sob nossa tutela, instituições subordinadas e tuteladas são chamadas a contribuir para o desenvolvimento do Ministério. Pois não se trabalha ad hoc, temos um programa de governo para os próximos anos que resulta do nosso manifesto eleitoral. Este programa  nos orienta de forma horizontal para que todos possam  participar activamente no processo de desenvolvimento.
Tudo o que é projecto de desenvolvimento, é levado à discussão com os principais interessados e, depois, traçamos a estratégia de implementação com a participação de todos. Só para dar um exemplo: neste ano teremos a IX edição do Festival Nacional da Cultura, cujo lançamento aconteceu na Cidade da Beira no dia 11 de Março. Para a fase final, entre 24 e 28 de Agosto próximo, todo o país, desde a localidade á fase provincial e fase nacional, estarão envolvidos todos os actores sociais do país.
A experiência que eu posso partilhar é de uma gestão participativa ou inclusiva orientada para o combate á pobreza, para a redução das desigualdades sociais. Isso só se faz quando as comunidades são envolvidas e orientadas para a produção e produtividade contribuindo para a consolidação da unidade nacional, preservação da paz e soberania, condições basilares para a estabilidade da economia. Trabalhamos para que todos juntos possamos contribuir para o desenvolvimento do país, para que a geração de hoje seja melhor que a de ontem.

Para finalizar, qual é a mensagem que o Ministro quer transmitir aos potenciais investidores e leitores da HBR relativamente a  Moçambique e o ao sector da cultura e do turismo?

Moçambique é um país fascinante, é um país que vale a pena. Têm que vir para poder viver essas emoções, essa combinação, que pode ser uma experiência única para os leitores da sua revista. É um país seguro, que vale a pena explorar em todas as vertentes: quer seja cultural, económica ou de aventura. Não pode abraçar um leão da Gorongosa, mas poderá vê-lo de perto.
Era bom que viessem para ver Moçambique real e ter essa sensação. Nós temos diversos produtos turísticos. Portanto, eu convido aos leitores da Havard Business Review a visitar e a investir no meu país, Moçambique.

An interview conducted by Alejandro Dorado Nájera (@DoradoAlex) and Diana Lopes